terça-feira, 29 de setembro de 2009

O dia em que eu descobri que a Globo apoiava Fernando Gabeira

"O lançamento da candidatura de Fernando Gabeira a prefeito do Rio de Janeiro, de acordo com o jornal O Globo idéia de alguns militantes de esquerda do PSDB – pausa para gargalhar… – me fez lembrar de um episódio que só agora passou a fazer sentido.

Foi em 2006, durante a cobertura das eleições. Como repórter da TV Globo, fui encarregado de falar sobre o destino eleitoral dos candidatos a deputado que haviam sido acusados de envolvimento em escândalos nos meses anteriores. A reportagem também deveria registrar os campeões de voto. Não havia muito o que inventar. Era uma lista dos que haviam sido eleitos apesar de sofrerem acusações.

Registrei que Paulo Maluf tinha sido o candidato mais votado a deputado federal. E que, apesar de acusado de violar o sigilo do caseiro Francenildo, o ex-ministro Antonio Palocci tinha sido eleito. Era um registro, puro e simples, que incluía uma entrevista com o deputado reeleito João Paulo Cunha.

Na hora agá, faltando alguns minutos para o jornal ir ao ar, fui chamado às pressas. Era para cortar a referência a Palocci e incluir a eleição de Fernando Gabeira, com 293 mil votos. Eu não entendi nada, uma vez que muitos outros candidatos, de outros estados, tinham sido eleitos com votação superior. Celso Russomano, que não foi citado, teve mais de 573 mil votos em São Paulo. Foi aí que me dei conta: o deputado Gabeira tinha algum amigo “forte” na Globo do Rio.

Será que Gabeira está sendo preparado para fazer o papel da Heloisa Helena de 2010? Nada contra a senadora do PSOL. É que, durante a campanha eleitoral de 2006, as regras para a cobertura eram rígidas: os candidatos deveriam ter tempos iguais e só podiam aparecer no Jornal Nacional fazendo propostas, nunca atacando uns aos outros. Em geral, um minuto cada.

Mas, no meio do jogo, as regras foram “relaxadas”. Nos dias em que surgiam acusações contra o governo o Jornal Nacional passou a dar três minutos para que Alckmin, Heloisa Helena e Cristovam Buarque atacassem o governo. Numa ocasião específica um editor no Rio selecionou para ir ao ar um trecho de entrevista em que Heloisa Helena acusava Lula ou o PT pelo assassinato de Celso Daniel. A própria editora da reportagem, que estava em São Paulo, achou exagerado permitir uma acusação sem provas em rede nacional de TV. Fez essa observação à chefe, que ligou para o Rio de Janeiro. A fala da senadora foi trocada por outra, mais amena."



- Luiz Carlos Azenha (Blog Vi o Mundo)

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E a ingênua classe média achando que esse ia ser o candidato da mudança.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Notícias em Quadrinhos?

Uma das características do livre mercado é a existência da competição. Obviamente, nem sempre a competição, em determinados segmentos de mercado, configura-se uma disputa saudável. Pelo menos é o que a gente enxerga no setor de comunicação impressa.

No Rio, os grupos Infoglobo e O Dia travam violentas batalhas para controlar o mercado. O jornal O Globo, maior e mais influente, cujo conteúdo mais completo, com análises políticas, econômicas, esportivas, seus cadernos de cultura, educação e lazer, entre outras coisas, se viu ameaçado pelo jornal do grupo O Dia, com conteúdo um pouco menos elaborado, mas com uma proposta parecida, que ganhava espaço no mercado menos exigente. Então, o grupo O Globo lança o Extra, cujo jornalismo superficial, conteúdo razoável, economizando nos excessivos artigos de seu irmão maior e mais velho (principalmente na área da cultura e educação, que já não era aquela maravilha) , deixou o produto final mais barato e acessível às massas. Não obstante, o grupo O Dia resolveu lançar o magnífico Meia Hora, no qual as notícias são escritas em um vocabulário informal em não muito mais que uma dúzia de páginas, ignorando quase por completo a inútil cultura e a dispensável educação. O resultado do jogo do Flamengo, o próximo capítulo da novela e a Gata(?) da Hora, em detrimento de algum jornalismo decente, são as principais atrações do jornal, que vende bastante entre as classes mais baixas. O jornal fez tanto sucesso, que obrigou a sovina do grupo Infoglobo a buscar uma solução prática para absorver esse mercado conquistado pelo rival e então, eis que surge das trevas o Expresso, que consagra uma espécie de jornalismo(?) sangrento, copiando as prioridades do inimiguinho: jogo do Flamengo, novela e mulher pelada, que em outras palavras, é o "pão e o circo" que o povo tanto quer...

(Espero que eu não tenha que completar essa reticências, porque se não acabaremos com um jornal em quadrinhos no mercado.)