quinta-feira, 9 de julho de 2009

Movimento Pró-Democracia

Bem-vindos, caros leitores, ao Aglio e Óleo.

É de extrema satisfação poder ler finalmente o primeiro post do blog, o qual eu já havia projetado a tanto tempo. Não aguentava mais limitar as minhas modestas análises sobre o que acontece por aí às rodinhas de discussões universitárias. Não é que eu não goste delas – de fato, eu as adoro – mas há em mim uma sensação de improdutividade, que talvez eu consiga amenizar com a fundação do blog. É como se comigo houvesse alguma matéria prima, mas nunca estímulo para transformá-la em produto. Seria muita pretensão afirmar que tal produto esbanjaria qualidade, principalmente se tratando de um produto jornalístico, o qual o blog se propõe – embora com o caráter de opinião - e que eu não tenho competência acadêmica de executá-lo. Mas mesmo assim, arriscarei.

Para inaugurar o blog, voltarei um assunto já em baixa, que pode até soar um pouco ultrapassado. Não que o caso a seguir seja importantíssimo para a compreensão da sociedade, muito menos que os assuntos atuais não sejam merecedores de um post, mas é que esse caso tem uma especial importância dentro do contexto onde eu, Guilherme Aglio, estudante de Produção Cultural da UFF, estou inserido. Depois de algumas discussões in-campus sobre as eleições municipais do Rio, resolvi dissertar um pouquinho sobre o famigerado Movimento Pró-Democracia, que foi organizado através do Orkut e juntou cerca de 13 mil pessoas na internet, das quais três mil participaram das manifestações nas ruas.

A proposta inicial do movimento é “a aceleração do julgamento dos crimes eleitorais ocorridos” durante as eleições municipais cariocas. Oficialmente, o movimento aponta diversos crimes eleitorais, TODOS eles evolvendo o candidato vencedor Eduardo Paes (PMDB-RJ). Além de boca de urna, caixa 2 e uso da máquina pública, o MPD alega que falecidos tiveram votos computados, enquanto eleitores foram impedidos de votar. As denúncias estão no vídeo divulgado pelo movimento que você pode ver [aqui].

Tudo lindo e maravilhoso, o movimento arrastou uma galera – a grande maioria constituída de jovens (de classe média, importante citar) – da Cinelândia até o TRE, quase todos vestidos de preto com os rostos pintados em verde e amarelo, representando a morte da democracia no Brasil. Um show de organização, mobilização e divulgação. Baseado neles, inclusive, que passou pela minha cabeça conduzir o Movimento Contra a Propaganda Enganosa, mas faltou a disposição necessária com o Orkut e capacidade da Veja e da Globo em criar falsos mártires para o meu movimento. A primeira denúncia que o movimento faria seria justamente contra Movimento Pró-Democrático, que de democrático, meus amigos, nada tem.

Obviamente, se o movimento se tratasse de uma reação popular às irregularidades das eleições, tudo bem, nada contra, porém foi claramente um movimento de reação a não eleição de Fernando Gabeira (PV-RJ). A princípio, eu queria reiterar que o movimento foi conduzido justamente após uma eleição, em que o candidato dos que estavam ali protestando não foi eleito. Já começa a me parecer ofuscado a noção de democracia do MPD. Além do mais, esse candidato perdeu nas urnas, como se estivéssemos em uma sociedade democrática. Mas tudo bem, os organizadores afirmavam que, a princípio, não queriam a anulação das eleições, embora eu desconfie que esse “princípio” nunca existiu.

Roda inclusive, um vídeo na internet também divulgado pelo próprio movimento, que você pode ver [aqui], intitulado Movimento Pró-Democracia - Argumentos. O vídeo, como todos vocês leitores podem ter o privilégio de comprovar, ao invés de denunciar as práticas que, na ocasião das eleições do Rio, caminharam contra a democracia, se preocupou em fazer um ataque político somente a Eduardo Paes, demonstrando manobras de alianças, como quando Sérgio Cabral (PMDB-RJ) faz um discurso contra o presidente Lula e depois pede apoio para a candidatura de Eduardo Paes, como se isso significasse a falta da democracia. Aliança essa inclusive que dá asco a qualquer um e, até onde eu sei, mudar de idéia nunca foi anti-democrático. Esse namoro dos dois partidos rendeu até uma declaração de defesa de Lula para o indefensável Sarney, o que arrepia de verdade, mas não é por isso que vou deixar de votar na Dilma em 2010, até porque não acho que a oposição seja mais pura e imaculada. Além do mais, o vídeo nem sequer cita que o ex-candidato do PV é também um vira-casaca de carteirinha, já inclusive se elegendo pelo PT - configurando-se muito mais que uma simples manobra de aliança.

Claro que esse partidarismo travestido de Movimento Pró-Democrático se auto intitula "apartidário", mas alguém por aí acredita que se Fernando Gabeira tivesse ganhado as eleições, com ou sem irregularidade, haveria movimento? Aqui não. Esse é o segundo nome que o Movimento Contra a Propaganda Enganosa denunciaria: o de Fernando Gabeira, que recebeu o prêmio do O Globo "Faz a Diferença" e foi capa da revista Veja como o "Exemplo de Ética", principalmente por nunca ter aceitado indenização por conta da ditadura, embora a tenha usado no pedido de aposentadoria à comissão de anistia. Por que então o MPD também não protestou contra a utilização da cota de passagens aéreas que a Câmara fornece para enviar a filha Tami numa antidemocrática viagem aos Estados Unidos? Obviamente Gabeira teve que admitir e devolver os 6,5 mil reais à Câmara, mas nem houve protesto pró-democrático, infelizmente. De acordo com artigo de Maurício Dias publicado pela Carta Capital na edição de 27 de abril de 2008, e reiterado por Cynara Menezes na edição de 1º de junho de 2009, na declaração de gastos da campanha de 2006, o deputado do PV contratou ilegalmente a empresa de eventos pertencente a sua mulher no valor de 117 mil reais, nos quais apenas 5 mil eram pra produção de eventos, 55 mil para a "criação e inclusão de páginas na internet" e 52 mil para "diversas a especificar". Em nota, Dias afirma [aqui]: "A empresa de Neila não é do ramo da criação de sites e não se sabe igualmente do talento da atriz para esse negócio". A parte do “diversas a especificar” eu deixo para a imaginação dos leitores.

Tais acusações nunca nem sequer foram comentadas nos fóruns do Movimento Pró-Democrático, que você pode checar clicando [aqui].

E quase ia me esquecendo... ainda bem que ainda não li nada oficial do movimento sobre o suposto feriado antecipado, que alguns afirmam ter prejudicado as eleições. Anti-democrático nisso, apenas os "idiotinhas" que preferiram pegar uma "prainha" ao invés de exercer a democracia (como disse, em raro momento de lucidez, Arnaldo Jabour em declaração a CBN, que você pode ouvir [aqui]).

Democrático?

2 comentários:

  1. Sempre me questionei sobre as reais intenções desse movimento.

    Mas tenho certeza absoluta de que havia gente ali com boas intenções, só que talvez não tiveram olhar crítico suficiente para ver alguns objetivos mais "obscuros" dos que fizeram o movimento.

    Nessas horas que eu tenho vontade de ter uma banda de punk rock
    e de ganhar muito dinheiro com ela e ajudar crianças pobres na África e no Nordeste :D

    abração cara

    e vê se escreve menos na próxima vez! =D

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  2. ae! primeiro comentário !

    (e segundo também :D)

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