Bem-vindos, caros leitores, ao Aglio e Óleo.
É de extrema satisfação poder ler finalmente o primeiro post do blog, o qual eu já havia projetado a tanto tempo. Não aguentava mais limitar as minhas modestas análises sobre o que acontece por aí às rodinhas de discussões universitárias. Não é que eu não goste delas – de fato, eu as adoro – mas há em mim uma sensação de improdutividade, que talvez eu consiga amenizar com a fundação do blog. É como se comigo houvesse alguma matéria prima, mas nunca estímulo para transformá-la em produto. Seria muita pretensão afirmar que tal produto esbanjaria qualidade, principalmente se tratando de um produto jornalístico, o qual o blog se propõe – embora com o caráter de opinião - e que eu não tenho competência acadêmica de executá-lo. Mas mesmo assim, arriscarei.
Para inaugurar o blog, voltarei um assunto já em baixa, que pode até soar um pouco ultrapassado. Não que o caso a seguir seja importantíssimo para a compreensão da sociedade, muito menos que os assuntos atuais não sejam merecedores de um post, mas é que esse caso tem uma especial importância dentro do contexto onde eu, Guilherme Aglio, estudante de Produção Cultural da UFF, estou inserido. Depois de algumas discussões in-campus sobre as eleições municipais do Rio, resolvi dissertar um pouquinho sobre o famigerado Movimento Pró-Democracia, que foi organizado através do Orkut e juntou cerca de 13 mil pessoas na internet, das quais três mil participaram das manifestações nas ruas.
A proposta inicial do movimento é “a aceleração do julgamento dos crimes eleitorais ocorridos” durante as eleições municipais cariocas. Oficialmente, o movimento aponta diversos crimes eleitorais, TODOS eles evolvendo o candidato vencedor Eduardo Paes (PMDB-RJ). Além de boca de urna, caixa 2 e uso da máquina pública, o MPD alega que falecidos tiveram votos computados, enquanto eleitores foram impedidos de votar. As denúncias estão no vídeo divulgado pelo movimento que você pode ver [aqui].
Tudo lindo e maravilhoso, o movimento arrastou uma galera – a grande maioria constituída de jovens (de classe média, importante citar) – da Cinelândia até o TRE, quase todos vestidos de preto com os rostos pintados em verde e amarelo, representando a morte da democracia no Brasil. Um show de organização, mobilização e divulgação. Baseado neles, inclusive, que passou pela minha cabeça conduzir o Movimento Contra a Propaganda Enganosa, mas faltou a disposição necessária com o Orkut e capacidade da Veja e da Globo em criar falsos mártires para o meu movimento. A primeira denúncia que o movimento faria seria justamente contra Movimento Pró-Democrático, que de democrático, meus amigos, nada tem.
Obviamente, se o movimento se tratasse de uma reação popular às irregularidades das eleições, tudo bem, nada contra, porém foi claramente um movimento de reação a não eleição de Fernando Gabeira (PV-RJ). A princípio, eu queria reiterar que o movimento foi conduzido justamente após uma eleição, em que o candidato dos que estavam ali protestando não foi eleito. Já começa a me parecer ofuscado a noção de democracia do MPD. Além do mais, esse candidato perdeu nas urnas, como se estivéssemos em uma sociedade democrática. Mas tudo bem, os organizadores afirmavam que, a princípio, não queriam a anulação das eleições, embora eu desconfie que esse “princípio” nunca existiu.
Roda inclusive, um vídeo na internet também divulgado pelo próprio movimento, que você pode ver [aqui], intitulado Movimento Pró-Democracia - Argumentos. O vídeo, como todos vocês leitores podem ter o privilégio de comprovar, ao invés de denunciar as práticas que, na ocasião das eleições do Rio, caminharam contra a democracia, se preocupou em fazer um ataque político somente a Eduardo Paes, demonstrando manobras de alianças, como quando Sérgio Cabral (PMDB-RJ) faz um discurso contra o presidente Lula e depois pede apoio para a candidatura de Eduardo Paes, como se isso significasse a falta da democracia. Aliança essa inclusive que dá asco a qualquer um e, até onde eu sei, mudar de idéia nunca foi anti-democrático. Esse namoro dos dois partidos rendeu até uma declaração de defesa de Lula para o indefensável Sarney, o que arrepia de verdade, mas não é por isso que vou deixar de votar na Dilma em 2010, até porque não acho que a oposição seja mais pura e imaculada. Além do mais, o vídeo nem sequer cita que o ex-candidato do PV é também um vira-casaca de carteirinha, já inclusive se elegendo pelo PT - configurando-se muito mais que uma simples manobra de aliança.
Claro que esse partidarismo travestido de Movimento Pró-Democrático se auto intitula "apartidário", mas alguém por aí acredita que se Fernando Gabeira tivesse ganhado as eleições, com ou sem irregularidade, haveria movimento? Aqui não. Esse é o segundo nome que o Movimento Contra a Propaganda Enganosa denunciaria: o de Fernando Gabeira, que recebeu o prêmio do O Globo "Faz a Diferença" e foi capa da revista Veja como o "Exemplo de Ética", principalmente por nunca ter aceitado indenização por conta da ditadura, embora a tenha usado no pedido de aposentadoria à comissão de anistia. Por que então o MPD também não protestou contra a utilização da cota de passagens aéreas que a Câmara fornece para enviar a filha Tami numa antidemocrática viagem aos Estados Unidos? Obviamente Gabeira teve que admitir e devolver os 6,5 mil reais à Câmara, mas nem houve protesto pró-democrático, infelizmente. De acordo com artigo de Maurício Dias publicado pela Carta Capital na edição de 27 de abril de 2008, e reiterado por Cynara Menezes na edição de 1º de junho de 2009, na declaração de gastos da campanha de 2006, o deputado do PV contratou ilegalmente a empresa de eventos pertencente a sua mulher no valor de 117 mil reais, nos quais apenas 5 mil eram pra produção de eventos, 55 mil para a "criação e inclusão de páginas na internet" e 52 mil para "diversas a especificar". Em nota, Dias afirma [aqui]: "A empresa de Neila não é do ramo da criação de sites e não se sabe igualmente do talento da atriz para esse negócio". A parte do “diversas a especificar” eu deixo para a imaginação dos leitores.
Tais acusações nunca nem sequer foram comentadas nos fóruns do Movimento Pró-Democrático, que você pode checar clicando [aqui].
E quase ia me esquecendo... ainda bem que ainda não li nada oficial do movimento sobre o suposto feriado antecipado, que alguns afirmam ter prejudicado as eleições. Anti-democrático nisso, apenas os "idiotinhas" que preferiram pegar uma "prainha" ao invés de exercer a democracia (como disse, em raro momento de lucidez, Arnaldo Jabour em declaração a CBN, que você pode ouvir [aqui]).
Democrático?